Fez ontem um ano que o semanário Sol chegou às bancas. O DN assinala hoje devidamente a efeméride. Online está apenas o texto principal, sem a evolução de vendas, nem o confronto verbal Sol-Expresso, que antecedeu o lançamento do novo jornal. (aqui)
Saraiva bem pode fazer um balanço muito positivo do primeiro ano do semanário, mas tenho para mim que este Sol está longe de ser o que prometeu. É verdade que continuo a comprá-lo desde 16 de Setembro de 2006, mas também é verdade que não deixei de comprar o Expresso. Um jornalista, porém, não é um leitor normal de jornais. Muitos de nós, sobretudo em dias de folga, compramos quase tudo o que nos aparece à frente. Para analisar, para comparar, para criticar, para perceber as diferenças. O leitor comum (que como se sabe é bem mais do que as classes política e jornalística...) não faz isso.
Há um ano, o Sol prometeu-nos um jornal diferente de tudo o que tinha sido feito até aqui, diferente, ousado, interessante. Em alguns aspectos cumpriu, é verdade, mas continuo a achar o Expresso muito mais jornal, mais completo, mais diversificado, mais bem escrito e que vai mais a fundo nas questões.
Saraiva bem se pode queixar da concorrência desleal e bem pode invocar a aposta do concorrente nos DVD para não baixar as vendas, mas como provam os dados da Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragens relativos ao primeiro trimestre do ano (divulgados a 28 de Junho deste ano), o Expresso continua bem à frente (121 mil contra 51 mil do Sol).
E isto acontece porque, apesar da irregular qualidade do Expresso, o seu leitor mais esclarecido não o troca pelo Sol. No que toca à cultura, por exemplo, ninguém que lê o Expresso e não prescinde da Actual, muda para o Sol.
Graficamente, o jornal está mais fraco que no início. Há páginas que parecem ser desenhadas em dez minutos, para despachar. E nesse aspecto a remodelação gráfica do Expresso (também com um ano) deu à luz um jornal muito mais elegante, mais amplo, com mais pontos de leitura. Vantagem clara, também aqui, para o semanário da Impresa.
O Sol tem coisas boas. À cabeça, as entrevistas de José Eduardo Fialho Gouveia. Imprevistas, surpreendentes, quase sempre de chorar por mais. Um excelente arranque, logo na página 2. Depois, a boa informação política. A Tabu é muito irregular, mas tem normalmente assuntos bem interessantes.
No pólo oposto, irritam-me sobremaneira as pequenas notícias do Sol. Não me refiro às da capa e da última, mas às que abundam nas páginas interiores, como se de um diário se tratasse. Percebo a intenção: Saraiva sonhou com um jornal auto-suficiente, que se bastasse a si próprio. Um jornal que satisfizesse o leitor por completo. Ou seja, o director acreditou que os leitores diários dos outros jornais chegassem ao sábado e abandonassem a sua leitura de todos os dias para comprar apenas o Sol. Isso pode ter acontecido com alguns, mas não com a larga maioria (basta ver a evolução das vendas dos diários aos sábados, passado um ano). Por isso, parece-me, a mescla de informação respirada de um semanário com o estilo seco e curto de um diário não me parece bem conseguida. Quem compra um semanário, quer análise, quer reportagem, quer mais do que a simples notícia.
Depois, há páginas que, pura e simplesmente, passo adiante. Não me interessam. A jardinagem, a etiqueta e outras secções, ainda que possam ser um must para José António Saraiva, não me agradam.
E é por isto tudo, e não seguramente pelos DVD, que o Expresso continua a liderar ao fim de um ano. E é também por isso que Saraiva foi obrigado a retirar do cabeçalho a história do jornal que não oferece brindes nem faz promoções. Aquele jornal, feito assim, não pode valer só "por si"... (recorde aqui)
1 comentário:
Estou completamente de acordo. Comprei-o nas primeiras semanas e voltei para o expresso. E nao sou jornalista nem político... Parabéns pelo blog
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