
Acabei de ver o 1,2,3. Ou melhor, acabei de ver um interessante remake do histórico concurso da RTP, na última sessão do Superconcurso, um projecto da televisão pública que durou os últimos dois meses do verão, apresentado por Jorge Gabriel. Bem produzido pela Fremantle, o Superconcurso foi uma ideia interessante, no ano do 50.º aniversário da televisão em Portugal. E hoje, tal como previra, cumpriu-se mais uma etapa naquilo que há seis meses escrevi no DN: aos poucos estamos a assistir à preparação do regresso de Carlos Cruz.

O exercício, claro, é delicado. E deve ser feito com passos calculados. Meste da comunicação, Cruz sabe isso melhor que ninguém. E a partir do momento em que recebeu autorização para sair do concelho de Cascais, começou a aparecer.
Foi ao Algarve ver os sogros, à porta de quem tinha sido detido a 1 de Fevereiro de 2003; foi ao Jardim Zoológico com a filha mais nova; apareceu em mensagem gravada na gala dos 50 anos da RTP (vendo o director de programas, Nuno Santos, dedicar-lhe 30 segundos do seu discurso, elogiando-o como "o melhor de todos nós"); foi à gala dos Globos de Ouro, da SIC, na primeira e mediática aparição pública (onde confraternizou com os seus parceiros de profissão, agora mais sorridentes, que a memória do povo é curta...), e, em Agosto, no Algarve, apareceu numa das badaladas festas do Sasha Summer Sessions, na Praia da Rocha, ao lado de muitos VIP's.

Tal como Cruz assumiu em Novembro de 2002, quando o seu nome começou a ser ventilado no caso Casa Pia, "haverá sempre alguém que vai acreditar nesta história". E, sobretudo, haverá sempre gente que achará que "eles são poderosos e conseguem sempre escapar", ou que "quem se lixa é sempre o mexilhão". Ou seja, a popularidade de Carlos Cruz dificilmente será a mesma de outrora. Mas os aplausos que hoje à noite se ouviram no 1,2,3, às referências ao mítico apresentador, ou as gargalhadas (e não vaias)
que se ouvira
m sempre que Jorge Gabriel colocou uns óculos de massa carregados e uma cabeleira de risco ao meio, a fazer lembrar Cruz nos anos 80, são o indício que o comunicador não morreu profissionalmente.

Para o final fica uma pergunta, a mais polémica, admito. É uma questão que me tenho feito muitas vezes ao longo dos últimos quatro anos e meio. E que já a fiz publicamente e ao próprio Carlos Cruz, na citada entrevista: E se, no final deste julgamento, a Justiça portuguesa não conseguir dar por provado o seu envolvimento no crime de pedofilia? Que Estado de Direito é este, que jornalismo fazemos nós, que País estamos a construir? Onde fica a vida de uma pessoa interrompida há cinco anos no auge da sua carreira? Que crime é este? Tem retorno? Tem desculpa?
Foto: Expresso
1 comentário:
Caro Nuno,
Concordo inteiramente com o seu comentario. Como e possivel um pais que se diz civilizado, deixar que este processo se arraste eternamente. Que pais de facto andamos a construir? Que valores temos como sociedade? Que educacao estamos a dar aos nossos filhos?
Infelizmente, nao sou tao optimista. Acho que este processo vai cair no esquecimento e o nome de mais um inocente vai ficar manchado para sempre.
A maioria dos Portugueses nao tem uma atitude critica sobre o que ve e ouve, e sem duvida que a comunicacao social "adormece" a nossa accao critica.
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