domingo, 21 de outubro de 2007

O futuro de Herman


Herman José está a escassos dois meses de terminar o seu contrato com a SIC. Já há um ano o tabu foi cerradíssimo. Assina, não assina? Vai para a RTP, vai para a TVI ou vai tirar uma licença sabática? Ele assinou por um ano e fez o programa que Penim queria, não um talk show como fazia, mas um programa de humor puro e duro. Agora, que estamos quase no fim de Outubro, as dúvidas adensam-se de novo. Sempre que Herman aparece em público, os jornalistas fazem-lhe a pergunta da ordem, mas Herman diz que "ainda é cedo". Tenho para mim que desta vez é que é. Depois de perder os Gatos, o Monchique, a Ana Bola, o Nilton, o Marco Horácio, a SIC vai perder Herman José. Não surpreende: as relações entre Penim e Herman José nunca foram boas, apesar de ambas as partes negarem elegantemente essa evidência. Há uma tensão permanente, um ranger de dentes, uma incomodidade indesmentível. Penim gostava que Herman rendesse mais, que as suas criações voltassem a ter o glamour de antigamente. Por outro lado, Herman não entende como o seu programa é atirado para a madrugada, e sente saudades do tempo (Manuel Fonseca) em que era tido como uma estrela da SIC.
Ambos terão razão: ninguém pode, desta vez, dizer que Francisco Penim não tentou tudo para Herman triunfasse. Na estreia, em Fevereiro, começou às 22.30 e fez 20 pontos de share. Saltou para as 23h e piorou, às 21h foi um desastre (12% de share em horário nobre numa estação privada e comercial é um suicídio). O Hora H já teve seis horários diferentes. Agora, por via da "Família Superstar" ao domingo, passou para o sábado. De novo de madrugada.
Também se percebe o desgosto de Herman: por um lado, sente o potencial da sua criação ser desbaratado num horário madrugador, depois, quando toda a crítica desancava na qualidade do programa, ele disse "daqui a um tempo ainda se vai dizer que é um programa de culto". E, de facto passados oitos meses há críticos de televisão que não poupam elogios à dinâmica da narrativa e à evolução do formato. Mesmo assim, porém, sem audiência.
Para Herman este parece ser o fim da linha na SIC.E não me admirava muito que dentro de seis a dez meses (depois de uma paragem que Herman precisa, até para os portugueses sentirem saudades...)o "verdadeiro artista" estivesse na RTP. E alguém se admiraria se fosse um sucesso?

Coisas da rádio III


Eu não sei se Paulo Cintrão (TSF) gostará ou não da comparação, mas para mim torna-se cada vez mais claro: ele é, mutatis mutandis, o sucessor de Jorge Perestrelo na arte de relatar um jogo de futebol. Sim, eu sei que Perestrelo, cuja morte aos 56 anos a 6 de Maio de 2005 deixou um vazio na rádio, não era um gerador de consensos. Com ele era branco ou preto, uma espécie de amor/ódio. Há quem não suportasse aquela forma frenética, exagerada, no limite, de relatar a "rapaqueca"; há quem achasse um disparate aquelas expressões "eu com a minha barriguinha...", "pela madrugada...", "o que é que é isso, ó meu...", "levantado o pau...". Era o estilo dele. Um estilo quente de África, um toque brasileiro no relato, que fez hístória, que marcou a rádio em Portugal. Eu gostava. Cresci a ouvi-lo, ainda na Onda Media da Comercial e, depois, na TSF.



Ora, Paulo Cintrão, que já era um excelente repórter de pista e que por via da escassez de relatores na TSF (a morte de Perestrelo, a saída de Helder Conduto e de Fernando Correia) se fixou a fazer relatos, bebe muito da inspiração do mestre. Não é daquelas cópias descaradas que se encontram pelas rádios locais Portugal afora, mas é um estilo, uma língua mais solta, uma emoção que salta do relvado para a rádio.
Cintrão sabe bem (sempre soube...) aproveitar a excelente voz grave que tem. E esticá-la aos limites numa jogada de perigo, e arrastar/carregar/prolongar os "rrr", como Perestrelo fazia. Ontem, quando Fredy Adou marcou o golo salvador do Benfica-Vitória de Setúbal no último minuto, quando ouvia Paulo Cintrão a gritar o golo, estava a "ouvir" Perestrelo. E quando acabou de o gritar, antes de chamar o repórter David Carvalho, Paulo Cintrão ainda disse emocionado: "É um golo fantástico, um golo que... enfeita o futeboooooool". Eu, que conheço as expressões de Perestrelo de cor e salteado, logo me lembrei de um clássico: "É um golo fantástico, um golo que... aquece a alma".

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Coisas da rádio II



Quem dizia que o Rádio Clube Português seria uma nova Central FM estava enganado. Não é. Tem ainda muito que crescer, é um facto, falta-lhe ganhar coerência durante o dia e uma maturidade de antena que ainda não tem, mas só não vê quem não quer que as suas manhãs (7-12, "Minuto a Minuto, com João Adelino Faria) são hoje um espaço de referência na informação matinal das manhãs. Com uma agenda própria, com uma história do dia todos os dias, sem andar a reboque do que dizem os jornais e, depois, com um leque de colunistas onde se incluem nomes de primeira grandeza como Pacheco Pereira, Maria João Avilez, Inês Serra Lopes, Mário Crespo, Maria Filomena Mónica, Daniel Sampaio, Dias Loureiro, Ana Gomes. A qualidade dos seus convidados diários é bem a prova de que a estação da Prisa já obrigou as agências de comunicação a inclui-la nas suas agendas.
É verdade que o Bareme Rádio da Marktest ainda não reflecte esse trabalho (só quem não percebe muito de rádio poderia achar que ao fim de duas vagas, com os efeitos de uma limpeza de antena ainda no ar, os estudos de opinião seriam já muito positivos) e que isso ainda vai demorar algum tempo a acontecer (entre seis meses a um ano), mas que o novo RCP já foi capaz de marcar a agenda, isso é indesmentível.

PS - Torno público o obrigatório "registo de interesses": sou amigo de João Adelino Faria e colaborador do Rádio Clube, com um espaço de opinião sobre Televisão, à segunda-feira, a partir das 11.30. Tais factos, porém, não me toldam a objectividade nem o sentido de justiça.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Coisas da rádio I



De há uns tempos para cá, a manhã das rádios descobriu o humor. O filão começou, e bem, com essa tripla inesquecível da (então) Comercial: Markl, Malato e Lamy, em o Homem que Mordeu o Cão. Depois disso, os programadores acharam que o humor ia bem com torradinhas e galão ao pequeno almoço. E toca de carregar na dose, abusando ad nauseam da receita. E temos pois exemplos indigentes de humor mas também verdadeiras pérolas. Neste particular, a TSF acertou na mouche. Os seus Cromos foram, há dois anos, uma pedrada no charco, sobretudo Ana Bola, Joaquim Monchique e, às vezes, Maria Rueff. Agora, em nova versão, Bola e Rueff juntam-se para fazer Denise e Maria Delfina, duas "manicuras" que recuperam o conceito da comédia "Celadon". Mas o grande achado da rádio de José Fragoso é mesmo Bruno Nogueira e o seu "Tubo de Ensaio". São quatro minutos de puro humor. Ainda ontem, Nogueira entrevistava "José Mourinho" ("um português desempregado que tentou a sua sorte lá fora, num país longínquo como a Inglaterra"), quando foi subitamente interrompido por um directo sobre Santana Lopes. Obviamente, não abandonei a emissão a meio...

Foto: DN

sábado, 13 de outubro de 2007

Alguém me explica?


















Que mistérios insondáveis poderão explicar por que razão a Polícia Municipal de Lisboa e a Emel, sempre tão solícitas a multar e a rebocar selvaticamente quem estaciona o carro de forma selvagem na capital, fecham os olhos ao escândalo que se repete todos os sábados à noite na Avenida da Liberdade? As imagens que aqui apresento foram captadas há poucos minutos do meu telemóvel. E o que apresento aqui não aconteceu hoje por acaso ou por qualquer ocasião especial. O cenário que ali vimos repete-se todos os sábados, há mais de três anos, desde que o Hard Rock Café abriu as portas no Rossio e La Feria começou a encher o seu Politeama.
A partir do meio da avenida da Liberdade, os condutores estacionam, sistematicamente ao sábado à noite, o carro em cima dos passeios da faixa central da avenida. Sim, aqueles largos passeios que o ex-presidente Santana, que o ex-presidente Carmona e que agora o presidente Costa querem que seja dos lisboetas.
Hoje, em pleno Rossio, vários polícias municipais estavam pelas ruas em vigilância, bloqueando carros em frente ao Palácio Foz (não fosse algum alto quadro do Estado querer trabalhar à meia noite...), mas fechando os olhos, de uma forma tão absurda como aviltante, às dezenas de carros estacionados com as quatro rodas nos passeios da Avenida.
Mais espantoso ainda: à mesma hora, na Rua Jardim do Regedor, ali mesmo no Rossio, um incauto condutor tinha parado o carro encostado a uma parede para rapidamente ir buscar uma pizza a um restaurante. Pois lá estava a carrinha da Polícia Municipal, toda computorizada, com os seus bempostos agentes tratando de ver os documentos da viatura, mais a carta de condução, mais os euros em troca dos quais a viatura seria desbloqueada.
Que raio de moralidade é esta? Que justiça é esta? Que polícia é esta? Que interesses são estes? Porque razão ninguém quer estragar o negócio ao Hard Rock Café e ao La Feria e me estragam a vida a mim e a qualquer outro cidadão se, durante o dia da semana, enquanto trabalho, me esquecer de ir lá pôr o talãozinho da ordem do parquímetro?

Uma questão de memória (2)

Parece que a coisa está mesmo feita: Santana Lopes vai ser o líder da bancada parlamentar do PSD de Luís Filipe Menezes. Como previa Ricardo Costa, director da SIC Notícias, na noite da eleição do novo líder, "vão ser momentos muito divertidos".
E serão. O que esperar de um partido liderado por um populista que fará da Câmara de Gaia o seu palco político, porque não é deputado? O que esperar desse mesmo partido que terá como líder de bancada um populista guerreiro, que queria ser primeiro-ministro, foi-o durante quatro meses, foi corrido e perdeu as eleições seguintes?
Sócrates vai ter obviamente tarefa mais complicada e pode esperar oposição bem mais aguerrida. Mas tem uma vantagem: é que à semelhança do que diz o cartaz do próprio (Janeiro de 2005), os portugueses conhecem-no muito bem...

Uma questão de memória

Após a queda de Santana Lopes do Governo, em Novembro de 2004, o PSD (perdão, o PPD/PSD) lançou por Portugal inteiro um cartaz provocatório. Já então as sondagens diziam que os portugueses se preparavam para tirar a direita do poder e voltar a dar uma nova oportunidade aos socialistas, esquecido que estava o pântano de Guterres.
O cartaz era este. Lembra-se?





Ora, justamente, no meio de um congresso em que só se devia falar de Luís Filipe Menezes, é o nome de Santana Lopes que mais se ouve. Não é surpreendente, mas é revelador. Talvez fosse altura dos socialistas retribuírem a gracinha: "Será que você quer que eles (santanistas) voltem?"

RTP versus Rodrigues dos Santos




As coisas nunca são a preto e branco. Procurar a razão nos extremos pode ser muito corajoso, mas nem sempre é justo. A propósito da crise na RTP, provocada pelo "caso José Rodrigues dos Santos", tenho para mim que nenhuma das parte tem a razão absoluta do seu lado. Defendo obviamente a liberdade de opinião do pivô da RTP, mas percebo bem o argumento da administração sobre o dever de lealdade de um alto quadro para com a sua empresa. Vamos, pois, por partes.

1. No essencial, na entrevista à Pública, José Rodrigues dos Santos não conta, no que aos factos diz respeito, nada de novo em relação ao que disse em 2004, que levou ao seu pedido de demissão.O que difere, isso sim, é o tom em que é dito. E continuam estranhas as razões que levaram o pivô a desenterrar este caso, uma vez que, ao que parece, o Público não lhe fez quaisquer questões sobre a matéria (ver, a propósito, a nota da direcção editorial do jornal, sobretudo o ponto 2, aqui)

2. A forma como o Pública titula a entrevista, e a grande chamada de primeira página que faz à entrevista na Pública, é profissionalmente desonesta. Sei, por experiência própria, como por vezes é difícil titular e sintetizar ideias num título, mas escrever "A administração da RTP passa recados do poder político" não é, seguramente, igual nem a síntese do que foi originalmente dito: "Falo na interferência da administração na área editorial. As minhas conversas com os governos, PS ou PSD, foram quase inexistentes. Na minha experiência, os governos contactam as administrações e depois estas passam, ou não, os recados."

3. No dia seguinte, José Rodrigues dos Santos, em entrevista na última página do DN, reitera o que disse à Pública, não revela qualquer desacordo nem insatisfação como o trabalho saiu publicado. Seria normal, se houvesse algum desacordo, que o jornalista aproveitasse para se demarcar do que saiu escrito. Isso não aconteceu.

4. O comunicado da administração da RTP, emitido terça-feira, é de uma violência inaudita, com passagens de extremo mau gosto: em quatro momentos trata Rodrigues dos Santos -que foi duas vezes director de Informação da empresa e o rosto mais popular da Informação da RTP, como "empregado", em vez de utilizar a palavra "quadro"; a referência ao dinheiro que não deixou de ganhar; a alusão ao incumprimento de horários, etc. Além disso, à falta de provas levanta ainda insinuações sobre alegadas motivações secretas do pivô para ressuscitar o caso três anos depois dos factos.

(ver aqui comunicado e entrevista)


Sejamos claros: José Rodrigues dos Santos até pode ter motivações secretas que o motivaram a dar esta entrevista, mas um comunicado de um conselho de administração deve resumir-se a factos. Na ausência de certezas, uma administração deve ficar calada, sob pena de entrar no jogo das mensagens dissimuladas que parece querer atacar.
Por outro lado, porém, se Rodrigues dos Santos não se deu ao trabalho de desmentir publicamente o Público (hoje em dia bastava um telefonema para a Lusa, a demarcar-se da entrevista e a esclarecer a sua posição, que facilmente faria chegar uma notícia minutos depois às redacções de todos os órgãos de comunicação...), é porque aparentemente está de acordo com o que ali está expresso.
Ora, apesar de Rodrigues dos Santos ter direito à sua opinião, tem de ter consciência que não é um qualquer quadro da RTP. Foi duas vezes director de Informação, é um dos apresentadores do principal espaço de informação do canal, aliás, o mais visto pelos portugueses. Rodrigues dos Santos bem pode dizer que não tem qualquer intervenção editorial no que lê. As classes A/B sabem bem o que isso quer dizer. Mas a maioria dos portugueses que o vê às 20.00, não. Para essa maioria, Rodrigues dos Santos é a cara da RTP naquele momento. É ele que está a dizer aquilo, independentemente de poder ter sido escrito ou sussurado por outro. Ou seja, há, pois um dever de reserva a que Rodrigues dos Santos, em minha opinião, deve obedecer. Ou então, sendo coerente com o que fez em 2004, recusa-se a apresentar o Telejornal, por não querer ser porta-voz de recados do poder. Ao não o fazer, Rodrigues dos Santos prefere navegar em dois mares: por um lado, é a cara da RTP, beneficiando do protagonismo que isso lhe confere, até para as suas actividades extra-profissionais, por outro lado coloca em causa o bom nome da empresa.

Foto: DN

Voltei!

Uma semana e meia fora do blog e tanta coisa nova aconteceu... Vamos ter que colocar a escrita em dia. Até já!

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

As razões do silêncio

Não, o blogueiro ainda não desistiu. Está vivo e recomenda-se. E regressa ao País na próxima segunda-feira. Voltarei então às lides.
Hasta!